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Carta aberta de um afetada pela síndrome de Asperger

Cristina de Inês Ruiz, afetada pela Síndrome de Asperger, conta para a QUO a sua experiência.

Síndrome de Asperger
Sheldon Cooper tem Asperger.
Hoje é o Dia mundial dos afetados pela síndrome de Asperger, um transtorno severo do desenvolvimento que faz parte do espectro de transtornos autísticos. Os afetados pela síndrome, mostram um distúrbio neuro-biológico no qual existem desvios ou anormalidades em alguns aspectos do desenvolvimento, como ligações e habilidades sociais, o uso da língua com fins comunicativos, comportamentos repetitivos ou persistentes, uma limitada gama de interesses pessoais e, na maioria dos casos, inabilidade motora.
Recentemente sabido, que a Sociedade Americana de Psiquiatria está reavaliando a definição atual do Autismo com motivo da 5º edição do “Manual diagnóstico e estatístico de distúrbios e transtornos mentais”, sendo esta a primeira revisão complexa do referido manual (conhecido como DSM) em 17 anos. Este manual serve de pilar de referência para os profissionais para a avaliação de distúrbios mentais, bem como para o seu tratamento, e também é a orientação pela qual se regem as seguradoras para cobrir a um paciente diagnosticado com algum tipo de autismo sua saúde. Nela, as mudanças propostas pelos encarregados de elaborar o manual para o final do ano, marcam um novo padrão para identificar distúrbios autísticos que deixariam fora os afetados pela Síndrome de Asperger ou Autismo atípico (PDD-NOS).
A decisão não é baladí, deixar de fora a pacientes que requerem atenção médica pode ser um grande erro, e “ter resultados devastadores”, segundo afirmam o Dr. Volkmar, juntamente com Brian James McPartland Reichow da Universidade de Yale, em um estudo realizado recentemente sobre o que ainda continuam trabalhando.
Para que vos torneis uma idéia do que é um dia-a-dia de um afetado de Síndrome de Asperger, em QUO.é quisemos aproximar-nos da Federação Asperger Portugal para que nos facilitasse o contato com um de seus associados.
A jovem lutadora Cristina de Inês Ruiz, é uma das afetadas pela Síndrome de Asperger e aceita encantada com o pedido QUO: “eu Não tenho nada a esconder”, afirma com convicção. Este é o seu testemunho:
“Minha relação com a Associação síndrome de Asperger é muito recente: até há alguns meses andei procurando por alguém que viver o meu problema (essas “anomalias” que ninguém entendia e até há quem pensava que eram “manias próprias de filha única”). Chegar a este diagnóstico tem sido para mim complicado, porque este longo caminho se iniciou com seis anos, ao sofrer uma falta (grau mais leve de ataque epilético). Desde o princípio, foi-me bem com a medicação e nada fazia suspeitar que fosse para ter mais complicações. Mas, desde o início da adolescência, tanto os meus pais como meus professores, familiares e conhecidos que iam percebendo que não pegava ao compasso dos meninos de minha idade. Nunca fui rebelde, nem tive problemas de conduta (ou de outro tipo, alheio ao stress escolar), nem sequer a psicóloga do Colégio parecia nada de especial: apenas achava que não me concentrava nas aulas e, por isso, me ficou alguma disciplina ao final do curso Secundário.
Comecei, pouco a pouco, a sentir-me deslocada pelas companheiras de curso (pensavam que era pesada, pois só tinha que falar dos estudos e notas, o que me angustiaba porque me faltava tempo entre deveres e exames). Talvez por isso, ao passar de companheiras para amigas, eu fui ficando sozinha. Além disso, pela primeira vez eu tive que repetir o ano -2º ensino médio-, o que as levou a perder o contato comigo.
Desde então e, apesar das pessoas me amo, eu não encontrei amigas. De modo que iniciei um longo passeio através de vários psicólogos que não tenho com o meu transtorno. Mesmo estive em terapia cognitiva com uma neuropsicóloga que em nenhum momento falou-me deste síndrome.
Felizmente, e por acaso, encontrei esta fundação e estou muito entusiasmada porque me sinto acompanhada por jovens que sofrem o que eu, de forma que você pode entender, e por terapeutas que vão me ajudar a melhorar, sem dúvida. Eu acho que eu comecei um novo caminho com o “meu povo” e não vou me sentir tão sozinha. Persistiré em meus rígidos planos (pois odeio as mudanças de última hora) e na minha preferência por certos temas (minhas “pequenas manias” de acordo com os outros), mas não perco a esperança de encontrar um emprego e continuar com o que mais me diverte (música, dança e teatro)”.
Tags: asperger.

No dia mundial da doença

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